quinta-feira, 7 de julho de 2011

Voltar atrás no tempo...


Ontem aconteceu-me algo extraordinário. Depois de ter tido um começo de dia não muito agradável, a tirar sangue e a fazer análises, as coisas lá foram melhorando ao longo do dia e terminei em grande. Fui ver o espectáculo da Ana Carolina ao Coliseu. Mas ainda antes do início do espectáculo (a primeira meia-hora foi por conta de "dois cromos" saídos de algum "Best dos Apanhados") um dos conceituados artistas, que não faço ideia quem seria, vai de embalar a plateia com "Europa" de Carlos Santana. E é nesse momento que me acontece algo de extraordinário, ao ouvir aquela balada sou projectada num turbilhão de memórias passadas para os meus 16 anos. É verdade, foi como se tivesse recuado no tempo e estivesse de novo num bailarico das Festas de 15 de Agosto em Arazede. Recordei com saudade aqueles momentos em que o início daquela balada dava origem a um jogo de troca de olhares, com os rapazes que se concentravam no centro do arraial (e era cada um que nem vos conto!) e que de forma subtil (com piscadelas de olho e investidas persistentes capazes de se confundirem com estrabismo crónico) íam lançando sinais de convite a uma dança. Claro está, que enquanto não fosse o "eleito da noite" a tomar a iniciativa, os restantes moçoilos estavam condenados a desvios de olhar e vista grossa da nossa parte. Depois era deixá-los naquela agonia com o evoluir da música, até que nos viam caminhar em direcção a alguém em quem colocávamos os braços em redor do pescoço e, naquele embalo de juventude, pedíamos para que aquele Verão não terminasse. Também me veio à lembrança a ansiedade que era passar um baile inteiro com músicas pimba, tangos e valsas à espera de um "slow" que nos fizesse saltar o coração (em vez daquelas melodias que apenas nos faziam saltar as pernas... e muito!). E como era frustrante, após insistência da avó, da mãe e da tia em ir embora (já sob ameaça de não voltarmos no dia seguinte), nos encaminharmos para a saída do recinto e já quase a passar os portões, lá soavam aqueles acordes da guitarra do Carlos Santana. Fogo, que vontade de voltar atrás! Por fim a tão esperada música aparecera! E no caminho até casa eram só baladas que se ouviam ao longe, músicas lentas que se aproximavam de nós empurradas pelo vento e que tornavam os nossos passos pesados e tão arrastados como o som daquelas músicas. Os pés completamente brancos, de tanto pó e algumas mazelas de uns passos de dança mais ousados, apenas acelaravam ao passar as travessas da linha do comboio. E já na ponta final... a pressa de descansar as pernas num colchão empurrava-nos para uma derradeira corrida pela azinhaga. Apesar da melancolia inevitável de qualquer final de noite de Verão, era bom chegar a casa, completamente gelada, pois o suor trazido pelas danças aceleradas já fora vencido pela humidade e pelo relento da noite. E ao despir a roupa, havia sempre um rasto de odor que tinha ficado em nós e que nos fazia lembrar alguém que tinha ficado para trás e que talvez naquela hora, ainda naquele recinto e ao som da música que se ouvia ao longe, dançaria com outro alguém.


São tempos que não voltam... e que deixam apenas de consolo a certeza que serão tempos que também não esquecem.

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